sábado, 2 de abril de 2011

DULCINA ENTREVISTA: CHICO DIAZ

Adaptado da obra homônima do escritor mineiro Campos de Carvalho, o espetáculo A Lua Vem da Ásia  é um passo novo (e certeiro) na carreira do ator Francisco Díaz Rocha, mais como conhecido como Chico Diaz.

Estrelado por Diaz,  o monólogo é o primeiro encenado pelo ator. Também é a primeira vez que o romance de Campos, publicado em 1956, ganha os palcos.

Na literatura, o romance A Lua Vem da Ásia marca o nascimento da narrativa surrealista de Campos de Carvalho.  

Loucura é o tema  - humano por excelência - do espetáculo, que leva a direção de Moacir Chaves.

Na capital federal, A Lua vem da Ásia encerrou sua temporada neste domingo, aclamado pelo público do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília. 

Na peça, o protagonista, Astrogildo ("homem incomum em busca da compreensão e justificativa da vida e da morte") narra, por meio de um diário, a ironia e a lógica com a qual desafia o mundo.

Astrogildo inicia seu relato confessando que, aos 16 anos, matou seu professor de lógica e foi viver sob uma ponte do Sena… embora a personagem nunca tenha estado em Paris.

Nessa entrevista, concedida especialmente para a estreia do Blog da Dulcina, além de "loucura",  Chico Diaz  falou sobre Campos de Carvalho, o desafio de montar seu primeiro monólogo e, de quebra, deixou valiosas dicas para quem está começando na carreira de ator.

A "loucura" perpassa o espetáculo A Lua Vem da Ásia. O tema é atual e universal.  Desde sempre existe na história da arte e da humanidade. Hoje, basta ligar a TV para se dar conta que o tema é mais comum do que a gente pensa. A peça faz essa ponte com a contemporaneidade?

Chico Diaz - Sem dúvida alguma. A realidade anda tão absurda que beira o surreal, e nossa lucidez é mesmo questionável. Na verdade, Campos de Cavalho, assim como a peça, levam-nos a refletir sobre os tênues limites existentes entre loucura e lucidez, liberdade e prisão, consciência e inconsciência, os colocando aptos a refletir. Refletir, ao meu ver, é uma das funcões primordiais do teatro.

É o seu primeiro monólogo. Nos fale a respeito desse desafio em sua trajetória.

Chico Diaz - Na verdade, nunca ambicionei ficar somente no palco, assim como em qualquer outro lugar que seja. Mas o tema central da peça é esse: nossa solidão e, também, nossa condicão no mundo. Daí não  haver, na minha opinião, melhor abordagem que o monólogo. Além de que toda a busca passa a ser interna, mesmo sabendo das dúvidas quanto ao que está por dentro ou por fora, mundo interior e exterior. O grande desafio é a opcão da liberdade na escolha do texto, na adaptacão dele, de levantar o projeto e falar das coisas que se quer falar, do que se acha importante levar à cena - seja no teatro ou em qualquer outro veículo. Isso sim é o desafio! Definir a musculatura, não só corporal, mas vocal e espiritual para cumprir a "partitura" escrita por Campos de Carvalho, que não é fácil.

A Lua Vem da Ásia é um monólogo adaptado da obra de Campos de Carvalho. Na sua opinião, quais são os grandes predicados deste autor e como se deu a escolha do texto?

Chico Diaz - O grande barato do Campos de Carvalho é sua total atencão à necessidade de uma lberdade irrestrita para o ser humano. É aí que ele, vendo e reparando na arapuca em que nos metemos nessa experiência terrena, o autor critica nossa sociedade mordazmente, acidamente. Mas sem nunca perder o humor e a humanidade. A escolha se deu quando o Aderbal Freire (diretor teatral)  me apresentou a ele quando montava O Púcaro Búlgaro. Quando li A Lua... eu quis fazer minhas as palavras de Carvalho.

Fale sobre a direção de Moacir Chaves.

Chico Diaz - Justa e ponderada. Eu já vinha, há meses, num solitário processo de ensaios e, nos últimos cinco meses, Chaves entrou muito atento e respeitoso. Com  seu grande conhecimento cênico e o valor que dá à palavra,  fomos lapidando o oceano imenso oferecido por Campos. A equipe de criação também colaborou de forma definitiva para o sucesso do espetáculo, assim como, não pode-se esquecer, as projecões do Eder Santos, o cenário do Frenando Mello, a luz do Renato Machado e os figurinos da Maria Diaz.

Como foi a acolhida do espetáculo no Rio de Janeiro? Soubemos que foi um sucesso. E a receptividade em Brasília?

Chico Diaz - Confesso que, tanto no Rio como em Brasília, nunca em minha vida havia vivido tamanha recepcão. Calorosa e emocionada. Casas cheias e muito entusiasmadas. Conseguimos, definitivamente, tocar em algo profundo no coracão das pessoas, algo que elas escondem lá no fundo da "caverna".

Qual a dica importante que você deixa para os jovens atores que estão agora começando na "aventura" das artes cênicas?

Chico Diaz - Muito amor pelo próximo, muita observacão do espírito humano e, claro, muito estudo. É um ofício que exige demais e que se torna cada vez mais difícil a cada desafio. Também acrescentaria: perseverança, informacão e leitura. Muita leitura.

Hoje em dia, quais são as grandes dificuldades de se fazer teatro no Brasil? 

Chico Diaz -  A direcão que  a atividade tomou. É uma grande confusão essa estória de gente famosa e celebridades dando uma de "ator". Fica difícil de saber aonde está operando o verdadeiro artista, entre tantos falsos holofotes, que, geralmente, cegam o verdadeiro "fazer teatral". E ainda  tem a luz que cega, aquela da vaidade e do proveito próprio, quando a verdadeira luz, a que verdadeiramente alimenta, é a que conscientiza e nos leva a reflexão.

E na TV: qual papel te deu maior prazer de fazer?

Chico Diaz - Todos. Cada um em seu tempo.

E no cinema, qual foi?

Chico Diaz - Foram vários. Lembro do primeiro, rodado aqui na cidade, O Sonho Não Acabou, que retratava a juventude de Brasília. Também recordo, com muita emoção, de contracenar com  Mastroianni (Marcello, ator) em Gabriela e de viver Corisco no filme do Rosemberg em pleno sertão cearense.

Você conhece o trabalho da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes?

Chico Diaz - Uma época até tentei dar algumas aulas por aqui, em Brasília, pois o meu filho para cá se mudara. Para mim seria um prazer, quem sabe, participar mais das atividades da faculdade.