quinta-feira, 28 de abril de 2011

O ALIENISTA

Para comemorar seus 10 anos de sua trajetória, a Cia de Teatro Nu Escuro investe em um novo desafio e transpõe da literatura para o palco o conto "O Alienista" de Machado de Assis. Primeiro pelo amplo sentido questionador desta obra, debatendo o que a sociedade rotula sobre o que é normalidade, o que está fora do padrão e como deve ser tratada essa marginalidade.

E estes questionamentos são potencializados, neste novo milênio, por uma forte indústria cultural massificante e, também, com uma indústria farmacêutica gananciosa, onde até as sensíveis nuanças de comportamentos são passives de tratamentos químicos. Segundo pelas possibilidades transgressoras e singulares que esta montagem pode se transformar visualmente no palco, com a ironia, irreverência e inteligência do texto e as possibilidades estéticas que podem ser criadas a partir do tema "Loucura".

Além disto, a dramaturgia coloca em confronto o a visão cientifica de Simão Bacamarte (personagem central de "O Alienista") com o ponto de vista da Loucura sobre ela mesma, com os textos de Erasmo de Roterdan, produzindo um contraponto e procurando um dialogo singular e questionador sobre a patologia cerebral e, principalmente, os valores morais da sociedade. E os fragmentos dos textos do "Elogio da Loucura" ganharão uma dimensão única na voz do diretor de teatro Hugo Rodas, que por si só já nos remete uma visão particular sobre a loucura dos seres humanos, com seus antagonismos e contradições.

A proposta de direção desta montagem foi de utilizar o texto do Machado de Assis como um provocador do trabalho de criação dos atores, buscando produzir um caleidoscópio de informações visuais e verbais em um ritmo inquieto e instigante, onde a qualquer momento o público possa ser surpreendido por estas provocações. A encenação se apóia na força, no vigor e na ironia da palavra no texto machadiano para se desdobrar em cenas que permeiam o discurso conceitual da obra e não somente na narrativa de uma historia.

Mais informações:
O Alienista
Cia de Teatro Nu Escuro
Dias 29, 30 de abril e 01 de maio de 2011
Sábado às 21h e domingo 20h
Centro Cultural SESI Taguatinga (QNF 24 – Taguatinga Norte)
Entrada Franca

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A CARTA DO ANJO LOUCO

A Carta do Anjo Louco se apresenta na fachada de Ministério no aniversário de Brasília

A montagem não é nada comum. O teatro vertical de Willian Lopes assume, na fachada de um Ministério, ares de revolução estética. O público deitado em almofadas, olhando para o céu, vislumbra um pseudo-suicida que comove a todos com sua dança aérea criando um espetáculo teatral singular.

Medo e deslumbramento físico interagem na obra deste artista candango que já nos presenteou com Uirapuru Bambu, Sonho Macbeth e agora volta ao público brasiliense com a sua “Carta do Anjo Louco”, na fachada do Ministério de Minas e Energia/Turismo nas noites de 20 e 21 de abril.

Apenas 15 minutos são necessários para Willian dar o seu recado. A exaltação da coragem diante da vida e da arte é percebida antes mesmo do cronômetro começar a girar. Uma plateia assustada, apesar das cômodas almofadas onde deitam, cobre o rosto no momento inicial do espetáculo.

Não querem ver a queda que se anuncia. Ouve a música dar o ritmo aos pensamentos que inspiram Willian nesta criação, a carta de Tarô do Anjo Louco evoca a insanidade criativa e a coragem de inovar. Jogar-se no espaço deixa a condição de metáfora para virar um convite filosófico ao espectador.

“Aprofunde-se no seu ser e crie seu destino!” parece nos dizer Willian Lopes em seu espetáculo sem palavras. 

A “travessura” do artista é milimetricamente calculada. Uma estrutura de metal de algumas toneladas segura as cordas que sustentam seu ballet. Três técnicos em altura o acompanham do topo do prédio e mais dois controlam os efeitos de luz e som sincronizados aos seus movimentos.

 As 24 apresentações feitas até agora ainda ecoam na memória de quem esteve presente. Os comentários empolgados viram propaganda que, de boca em boca, traz mais expectadores ávidos.  O cenário da Esplanada dos Ministérios em festa e a beleza do trabalho de Willian tornam a apresentação dos dias 20 e 21 um evento imperdível.

Serviço: A Carta do Anjo Louco
Local: Ministério de Minas e Energia/Turismo
Data: 20 de abril às 20h e às 22h/ 21 de abril às 19h e às 21h
Informações: Espaço Cultural Mosaico (61 – 3032-1330)

quarta-feira, 13 de abril de 2011

DICA DA DULCINA


O Centro Cultural Banco do Brasil Brasília provoca a nova safra de jovens escritores contemporâneos a estrearem como dramaturgos

Nova Dramaturgia Brasileira promove encontro entre jovens e consagrados escritores e diretores vindos de diferentes estados brasileiros para criarem uma série de quatro espetáculos inéditos:

André de Leones (Goiás), Xico Sá (Pernambuco), Joca Reiners Terron (Mato Grosso), João Paulo Cuenca (Rio de Janeiro), Cristina Moura (Brasília), Fernando Yamamoto (Rio Grande do Norte), Haroldo Rego (Rio de Janeiro – Paraíba), e Pedro Brício (Rio de Janeiro), traçando assim um novo panorama da dramaturgia no Brasil. 

De 11 de maio a 5 de junho, de quarta a domingo, o CCBB apresenta um espetáculo diferente por semana.

Abrindo a programação do projeto, de 11 a 15/05: Concerto para quatro vozes e alguma memória, com autoria de André Leones e direção de Cristina Moura, traz a tona o presente e o passado de dois casais que exploram o desconhecido e instigante universo da memória. Três mulheres e um homem exploram este universo ora cotidiano e reconhecível, ora fantástico e obscuro, por vezes alegre e ao mesmo tempo triste.

A segunda semana traz o espetáculo A Mulher Revoltada, de Xico Sá com direção de Fernando Yamamoto. A peça conta a história de Lucinha, uma mulher nos seus 30 e poucos anos, que se envolve com Marcelo, um jovem jornalista atormentado e perseguido pela voz de um ‘velho canalha’, que não para de perturbá-lo.

Na terceira semana, de 25 a 29, com texto de Joca Terron e direção de Haroldo Rego, Cedo ou Tarde, tudo morre apresenta a história de um jovem casal em meio a muitos acontecimentos e, diante dos quais, percebe que a vida a dois pode ser facilmente desestabilizada. Culpa e sacrifício, amor e lucidez, permeiam esta história intrigante e cheia de surpresas.

Encerrando o projeto, de 1º a 5/06, entra em cartaz o espetáculo Terror. Com autoria de João Paulo Cuenca e direção de Pedro Brício, Terror conta o encontro entre dois amantes que se passa num apartamento na cidade do Rio de Janeiro no fatídico dia da quedas das Torres Gêmeas – 11/11/2001. Ela, que mora em Nova York com o namorado, está com a volta marcada para o dia seguinte. A queda das Torres provoca uma crise entre os dois, que desencadeia em conflitos gerando dúvidas sobre qual será o futuro de ambos.

Cada escritor convidado escreveu um texto inédito especialmente para o projeto. Os diretores por sua vez receberam todos os textos e livremente escolheram aquele com o qual mais se identificavam. Essa seleção foi feita de forma bastante harmoniosa, “Cada diretor se interessou por um tema diferente, com isso, os textos foram distribuídos sem qualquer percalço.” Afirma Braune.

AS TEMPORADAS

De 11 a 15 de maio: Concerto para quatro vozes e alguma memória, de André de Leones, com direção de Cristina Moura
De 18 a 22 de maio: A Mulher Revoltada, de Xico Sá, com direção de Fernando Yamamoto.
De 25 a 29 de maio: Cedo ou Tarde Tudo Morre, de Joca Terron, com direção de Haroldo Rego.
De 1º a 5 de junho: Terror, de João Paulo Cuenca, com direção de Pedro Brício.

CCBB Brasília
Aberto de terça-feira a domingo das 9h às 21h.
SCES Trecho 2, lote 22 – Brasília/DF                     
Tel.: 61 3310-7087

segunda-feira, 11 de abril de 2011

BEIJO NO ASFALTO - CIA FÁBRICA DE TEATRO



De Brasília, a Cia Fábrica de Teatro surgiu do encontro entre atores formados, ou em formação, no estudo de artes cênicas da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes e, também, estudantes de publicidade.

Tudo começou com a adaptação contemporânea do espetáculo Beijo no Asfalto, clássico da obra de Nelson Rodrigues. Dirigido por Tássia Aguiar, Beijo no Asfalto teve sua estréia num festival de arte e cultura realizado na cidade de Samambaia e, posteriormente, foi apresentado na 9ª Mostra Dulcina, em 2009.

Em janeiro de 2011,  o grupo  fez sua estreia internacional em grande estilo, apresentando-se no Festival Internacional de Teatro Comunitário (Entepola), em Santiago, Chile.

Saiba mais sobre a Cia Fábrica de Teatro na próxima edição do jornal da Faculdade, o Intervalos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

POR QUE CONTINUAMOS FAZENDO E VENDO TEATRO?

No Dia Mundial do Teatro, que se comemora no dia 27 de março, a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes fez um ato de encerramento do Seminário Vivo EnCena.

O ato foi realizado no Museu da República, em Brasília, ao final do qual foi lançada a pergunta:

"Por que continuamos fazendo e vendo teatro?"

Leia mais respostas:

"Acho que continuamos fazendo/vendo teatro pela necessidade do ser humano em refletir sobre o mundo existente, criar outras possibilidades de mundo e investir no seu potencial criativo. Penso que quem faz teatro, o faz porque tem que canalizar de alguma forma a energia que está armazenada dentro dessa pessoa, uma energia que não foi 'gastada' em nenhuma outra atividade, seja porque tenha 'sobrado' um quantum de energia ou pelo fato de haver aquela inquietação que nada supre. Talvez a prática artística seja o que vai fazer calar aquela inquietação e/ou aumentar cada vez mais nossa capacidade de se inquietar e produzir. A inquietação não deve ser necessariamente calada. Acredito que a artista pode querer calar sua consciência, subconsciente, coração ou seja lá o que for ou pode querer expandir essa sua inquietação para as outras pessoas. Dependendo do grau de satisfação e de esgotamento do tema inquietante, pode-se trabalhar com ele mais vezes - fazendo falar e se expandir, ao invés de calar.

Anna Cristina Prado

"Faço teatro para viver mais vidas dentro da minha unica vida. Para nos libertarmos de amarras interiores, conscientes e inconscientes no teatro entramos em contato com o nosso verdadeiro eu, tu e vós".

Carol Esteves

"Porque é um espaço para refletirmos nossa condição humana e convívio em sociedade, além de ser um prazer imensurável!"

Silvia Paes

"Para fugir da realidade vizinha ou abraça-la intensamente".

Pedro Ribeiro

"Porque, quando criança, se contraí o germe do teatro, e não tem cura. Na verdade, porque acredito no Teatro com "T" maiúsculo, aquele que se remete as fontes naturais, arte verdadeira, aos Deuses que simbolizam as forças atuantes no tempo e no espaço, aquelas mesmas que expandem a consciência do homem frente a si mesmo e ao seu mundo. O teatro é arte dionisíaca (e porque não, também apolínea), afrodisíaca, poética, visceral, eterna porque una com o processo de auto-reflexo de nossa humanidade, com o seu pior, com o seu melhor. E salve o Brômio!

André Garcia

"Continuamos vendo e fazendo teatro porque queremos sentir, nos emocionar. E, assim, ter a certeza de que estamos VIVOS!"

Mariana Menezes

terça-feira, 5 de abril de 2011

POR QUE CONTINUAMOS FAZENDO E VENDO TEATRO?


No Dia Mundial do Teatro, que se comemora no dia 27 de março, a Faculdade de Artes Dulcina de Moares fez um ato de encerramento do Seminário Vivo EnCena.

O ato foi realizado no Museu da República, em Brasília, ao final do qual foi lançada a pergunta: 

"Por que continuamos fazendo e vendo teatro?"

Coletadas por e-mail, as respostas tem como objetivo chamar a atenção para a importância das redes de colaboração no fortalecimento do teatro no País.

E, principalmente, sobre a necessidade da criação de políticas públicas de cultura que assegurem acesso e fomento ao teatro brasileiro.

O Dia Mundial do Teatro é comemorado desde 1961, quando da inauguração do Teatro das Nações, em Paris.

Leia a seguir respostas de pessoas que - de alguma forma ou outra - vivem da arte de representar. No post abaixo, veja fotos do ato apresentado pela Faculdade Dulcina no Vivo EnCena.

Mais respostas para essa pergunta serão postadas, a qualquer momento, aqui no Blog da Dulcina.

POR QUE CONTINUAMOS FAZENDO E VENDO TEATRO?

"Eu faço teatro por ser uma forma de encontrar com as pessoas e compartilhar experiências. Continuo vendo teatro na tentativa de me encontrar nas pessoas, em suas experiências"

José Regino

"Porque o teatro engrandece a alma, revela caminhos, supera obstáculos, transforma, aceita, cria, inventa, nos torna iguais"

Rosanalha Martins

"Porque representar faz parte do viver"

Duda Costa

"Porque é assim que eu posso brincar de casinha depois de velha. Um eterno brincar de casinha nessa casa chamada mundo!" 

Helen Dieb

"Eu acredito no teatro. E no seu potencial de transformar as pessoas a partir da observação sistemática do outro. Vivenciar corporalmente o olhar do outro e assim refletir sobre nossas próprias práticas cotidianas. Eu cresci assim. Me tornando alguém que eu queria ser no teatro, dada a impossibilidade de assim ser no mundo real. Mas no momento em que representava, eu era e pensava como o personagem e essa prática me possibilitava pensar com um outro pensar, sem as rédeas e travas do que, historicamente, eu havia aprendido. Assim, naquele momento, eu estava, sobretudo, aprendendo com a representação de um outro. No processo ensino-aprendizagem isso é fundamental. Eu, enquanto arte-educadora, percebo nas crianças e adolescentes essa natural dificuldade de serem eles mesmos e se expressarem. Crescer não é fácil, amadurecer não é fácil, interagir e integrar o mundo com suas exigências na atualidade não é fácil. Através do teatro, do ato de representar o outro, as crianças e adolescentes acalmam essa também natural ansia de 'ter' o mundo para perceberem-se capazes de 'ser' no mundo. Pelo menos por alguns segundos enquanto param e se colocam no lugar do outro. Cada segundo dessa reflexão vem somar com as inúmeras experiências de vida dessa idade e contribuem para formar seres com a melhor das qualidades: humanos!"

Luciana Gresta

"Porque teatro é arte e arte transforma o mundo. Precisamos fazer nossa parte. Ofertar arte aos lugares mais inacessíveis, consumir com senso crítico e promover nossa parte na transformação"

Felipe Moura

"Fazemos teatro para nos manter vivos e criativos. Embora os profetas de plantão sempre antevejam o fim do teatro, ele permanece sendo a arte da aproximação. No teatro, se pode ver as gotas de suor do ator, às vezes é possível até sentir seu cheiro. O teatro não é asséptico, distante. Um banho de sangue no cinema é visto entre mastigadas de pipoca. Num teatro, o estômago revira, o coração acelera, a respiração se entrecorta. Teatro é efêmero, é experiência única e irrepetível. É o ato da comunhão. Viva o teatro!"

Carmen Moretzsohnn

"Para voar é preciso bater as asas!"

Iury Pereira

DULCINA NO VIVOENCENA*


*Crédito das fotos: Miguel Mello

sábado, 2 de abril de 2011

DULCINA ENTREVISTA: CHICO DIAZ

Adaptado da obra homônima do escritor mineiro Campos de Carvalho, o espetáculo A Lua Vem da Ásia  é um passo novo (e certeiro) na carreira do ator Francisco Díaz Rocha, mais como conhecido como Chico Diaz.

Estrelado por Diaz,  o monólogo é o primeiro encenado pelo ator. Também é a primeira vez que o romance de Campos, publicado em 1956, ganha os palcos.

Na literatura, o romance A Lua Vem da Ásia marca o nascimento da narrativa surrealista de Campos de Carvalho.  

Loucura é o tema  - humano por excelência - do espetáculo, que leva a direção de Moacir Chaves.

Na capital federal, A Lua vem da Ásia encerrou sua temporada neste domingo, aclamado pelo público do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília. 

Na peça, o protagonista, Astrogildo ("homem incomum em busca da compreensão e justificativa da vida e da morte") narra, por meio de um diário, a ironia e a lógica com a qual desafia o mundo.

Astrogildo inicia seu relato confessando que, aos 16 anos, matou seu professor de lógica e foi viver sob uma ponte do Sena… embora a personagem nunca tenha estado em Paris.

Nessa entrevista, concedida especialmente para a estreia do Blog da Dulcina, além de "loucura",  Chico Diaz  falou sobre Campos de Carvalho, o desafio de montar seu primeiro monólogo e, de quebra, deixou valiosas dicas para quem está começando na carreira de ator.

A "loucura" perpassa o espetáculo A Lua Vem da Ásia. O tema é atual e universal.  Desde sempre existe na história da arte e da humanidade. Hoje, basta ligar a TV para se dar conta que o tema é mais comum do que a gente pensa. A peça faz essa ponte com a contemporaneidade?

Chico Diaz - Sem dúvida alguma. A realidade anda tão absurda que beira o surreal, e nossa lucidez é mesmo questionável. Na verdade, Campos de Cavalho, assim como a peça, levam-nos a refletir sobre os tênues limites existentes entre loucura e lucidez, liberdade e prisão, consciência e inconsciência, os colocando aptos a refletir. Refletir, ao meu ver, é uma das funcões primordiais do teatro.

É o seu primeiro monólogo. Nos fale a respeito desse desafio em sua trajetória.

Chico Diaz - Na verdade, nunca ambicionei ficar somente no palco, assim como em qualquer outro lugar que seja. Mas o tema central da peça é esse: nossa solidão e, também, nossa condicão no mundo. Daí não  haver, na minha opinião, melhor abordagem que o monólogo. Além de que toda a busca passa a ser interna, mesmo sabendo das dúvidas quanto ao que está por dentro ou por fora, mundo interior e exterior. O grande desafio é a opcão da liberdade na escolha do texto, na adaptacão dele, de levantar o projeto e falar das coisas que se quer falar, do que se acha importante levar à cena - seja no teatro ou em qualquer outro veículo. Isso sim é o desafio! Definir a musculatura, não só corporal, mas vocal e espiritual para cumprir a "partitura" escrita por Campos de Carvalho, que não é fácil.

A Lua Vem da Ásia é um monólogo adaptado da obra de Campos de Carvalho. Na sua opinião, quais são os grandes predicados deste autor e como se deu a escolha do texto?

Chico Diaz - O grande barato do Campos de Carvalho é sua total atencão à necessidade de uma lberdade irrestrita para o ser humano. É aí que ele, vendo e reparando na arapuca em que nos metemos nessa experiência terrena, o autor critica nossa sociedade mordazmente, acidamente. Mas sem nunca perder o humor e a humanidade. A escolha se deu quando o Aderbal Freire (diretor teatral)  me apresentou a ele quando montava O Púcaro Búlgaro. Quando li A Lua... eu quis fazer minhas as palavras de Carvalho.

Fale sobre a direção de Moacir Chaves.

Chico Diaz - Justa e ponderada. Eu já vinha, há meses, num solitário processo de ensaios e, nos últimos cinco meses, Chaves entrou muito atento e respeitoso. Com  seu grande conhecimento cênico e o valor que dá à palavra,  fomos lapidando o oceano imenso oferecido por Campos. A equipe de criação também colaborou de forma definitiva para o sucesso do espetáculo, assim como, não pode-se esquecer, as projecões do Eder Santos, o cenário do Frenando Mello, a luz do Renato Machado e os figurinos da Maria Diaz.

Como foi a acolhida do espetáculo no Rio de Janeiro? Soubemos que foi um sucesso. E a receptividade em Brasília?

Chico Diaz - Confesso que, tanto no Rio como em Brasília, nunca em minha vida havia vivido tamanha recepcão. Calorosa e emocionada. Casas cheias e muito entusiasmadas. Conseguimos, definitivamente, tocar em algo profundo no coracão das pessoas, algo que elas escondem lá no fundo da "caverna".

Qual a dica importante que você deixa para os jovens atores que estão agora começando na "aventura" das artes cênicas?

Chico Diaz - Muito amor pelo próximo, muita observacão do espírito humano e, claro, muito estudo. É um ofício que exige demais e que se torna cada vez mais difícil a cada desafio. Também acrescentaria: perseverança, informacão e leitura. Muita leitura.

Hoje em dia, quais são as grandes dificuldades de se fazer teatro no Brasil? 

Chico Diaz -  A direcão que  a atividade tomou. É uma grande confusão essa estória de gente famosa e celebridades dando uma de "ator". Fica difícil de saber aonde está operando o verdadeiro artista, entre tantos falsos holofotes, que, geralmente, cegam o verdadeiro "fazer teatral". E ainda  tem a luz que cega, aquela da vaidade e do proveito próprio, quando a verdadeira luz, a que verdadeiramente alimenta, é a que conscientiza e nos leva a reflexão.

E na TV: qual papel te deu maior prazer de fazer?

Chico Diaz - Todos. Cada um em seu tempo.

E no cinema, qual foi?

Chico Diaz - Foram vários. Lembro do primeiro, rodado aqui na cidade, O Sonho Não Acabou, que retratava a juventude de Brasília. Também recordo, com muita emoção, de contracenar com  Mastroianni (Marcello, ator) em Gabriela e de viver Corisco no filme do Rosemberg em pleno sertão cearense.

Você conhece o trabalho da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes?

Chico Diaz - Uma época até tentei dar algumas aulas por aqui, em Brasília, pois o meu filho para cá se mudara. Para mim seria um prazer, quem sabe, participar mais das atividades da faculdade.